quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

REFLEXÃO SOBRE A QUARESMA



Achei este texto muito interessante. Por isso compartilho com vocês
  

QUARESMA: “jejuar é dar espaço para outras fomes” 
 (N. Bonder)




“Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste
 como os hipócritas” (Mt. 6,16)



Caminheiros somos, como foi o Povo de Deus, rumo à Terra
Prometida, hoje num deserto diferente, povoado de desafios 
que podem atrofiar a visão e nos colocar à margem do caminho,
mas também um deserto de encantos, repleto de sinais e de presença
de Deus, que nos impulsiona, nos acompanha nas longas jornadas 
e nos acolhe no fim da marcha.


O tempo da Quaresma é para nós cristãos tempo privilegiado 
para retomar o ritmo da marcha, esvaziar nossas mochilas do
 supérfluo, reabastecer-nos do essencial, 
retomar as metas discernidas
 e assumidas diante de Deus. É Jesus mesmo que vai à nossa frente, 
que nos abre um caminho novo, orientado pela solidariedade com os
 mais sofridos, pela partilha do nosso ser e ter, por um amor incondicional e gratui-to... É Ele que se faz solidário
 em nossas dores e alegrias, pacificando o nosso interior
 e revelando o amor do coração paterno e materno de Deus.



A oração, a esmola e o jejum, são as três atitudes mais características
 do tempo da Quaresma. E nem sempre valorizadas como merecem, 
em nossa existência.
A oração é adentrar-nos no nosso próprio interior, porque aí se faz 
ouvir a voz de Deus. E se ouvimos sua voz, nossa vida tomará um
 estilo diferente, mais evangélico.
Mas dificilmente podemos entrar no interior se nos deparamos com
 um coração endurecido, hermético.
Quando a oração é levada a sério, podemos prescindir de muitas coisas, fazer um autêntico jejum: de alimento, de tempo, de caprichos... 
Chegar a viver aquela sábia sentença de S. Francisco de Assis:
 “Desejo, realmente, poucas coisas, e as poucas coisas que
 desejo as desejo muito pouco”.
Então, já não é preciso perfumar-se e nem lavar o rosto, 
mas compartilhar a partir da generosidade que Deus desperta. 
E isto tem um nome: esmola.





O tempo da Quaresma é tempo propício para recuperar o sentido
 da prática do jejum.
O jejum real e sincero nos ajuda a fortalecer a liberdade interior frente
 às falsas necessidades, obriga-nos a renovar e confirmar o desejo 
de recorrer a Deus, de purificar nossa vida e exercitarmo-nos na oração
 e na justiça. O jejum e a sobriedade favorecem a aproximação 
espiritual a Deus e aos irmãos que sofrem. Ambos terminam facilmente
 na oração e em obras de amor e misericórdia (esmola).


O jejum implica uma parada, graças à qual, a pessoa perseverante 
pode retomar suas energias que estão meio perdidas, para reuni-las
 e orientá-las para seu destino original.
O jejum é um “olhar amoroso e vigilante” sobre si mesmo e para 
si mesmo, uma tomada de consciência sincera na direção de 
uma transformação profunda.



Na tradição dos Padres do Deserto, o jejum é o meio que a pessoa
 utiliza para criar um “espaço vazio” no qual o Espírito possa 
repousar, permitindo-a distinguir o essencial do supérfluo.
O jejum tem a finalidade de nos possibilitar a experiência da
 falta. Descobrir que, além dos alimentos que nos nutrem, é o Senhor
 da vida que nos nutre. É sentir também nossa fragilidade. 
É uma maneira de retornarmos ao essencial, aceitar-nos em nossos limites. E é do fundo de nossos limites que invocamos a Deus. 
É do cerne de nossa humanidade que nós reencontramos a chama
 da divindade.







O jejum nos torna mais simples e humildes, mais conscientes de 
nossa própria fragilidade e debilidade, mais compreensivos e compassivos com as fraquezas alheias, mais misericordiosos;
 então, sim, ele está contribuindo para que Deus nos modele
 segundo o que Ele é.
O jejum nos desperta para a solidariedade; com o jejum não 
vamos remediar a fome no mundo, mas sim, expressar que a fome 
no mundo nos diz respeito e nos afeta. E somos tão afetados 
que, voluntariamente, nos aproximamos da experiência de 
quem todos os dias dorme com o estômago vazio. É um gesto, 
antes de tudo, de com-paixão, de padecer juntamente
 com os que sofrem.

Diante de uma sociedade que valoriza o ser humano em função do 
que consome – “consumo, logo existo” – nosso jejum é um grito
 que anuncia que o ser humano é valioso em si mesmo, porque assim
 o é para Deus.
O que anima a pessoa a realizar o gesto forte de “ordenar-se” 
 é a sua liberdade, o seu desejo de união com Deus e com toda
 a humanidade. É a busca da “vida em plenitude”.
Corresponde a cada um saber quais são os setores da vida nos quais
 lhe convém exercitar o jejum:
 
- Jejum da palavra para aprender a escutar.
- Jejum dos pensamentos para viver no presente.
- Jejum na utilização dos meios de comunicaçã
  para poder assimilar tanta informação.
- Jejum na comida, na roupa, na bebida, nos bens
  supérfluos... para ser capaz de agradecer tanta
  diversidade de dons...
- Jejum de ressentimentos, tristezas, medos e ou-
  tros sentimentos negativos para que a vida possa fluir
 com mais liberdade...






Corresponde a cada pessoa encontrar sua ascese, ou seja, encontrar
 a maneira de ir esvaziando-se, despojando-se, para deixar espaço 
aos outros e ao Outro e chegar a viver em estado de união.
Sem esta ascese, há saturação, banalização e exigências que nos
 levam ao endurecimento do coração. Disto brota uma relação
 muito íntima entre a atrofia do Transcendente e a atrofia
 da solidariedade.
É urgente fomentar uma “cultura da austeridade, da comunhão, 
da partilha...”, se não queremos nos desumanizar, nem desumanizar
 o planeta. A ascese nos capacita para a solidariedade; o ordenamento
 de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros. 


A ascese nos dá liberdade para sermos independentes das coisas
 e vivermos com o essencial.
Não se trata de privar-se de “desfrutar”,  senão de evitar que
 o “desfrutar” se converta numa obsessão e numa dependência.
 A sensibilidade para com os outros desaparece na medida em que 
as próprias pul-sões se tornam intensas e descontroladas. 
Trata-se de não saturar o desejo, mas de deixá-lo aberto,
 como dinamismo para o Ultimo Desejo. Quanto mais vivemos em
 Deus, menos somos nós o centro, menos dependentes das coisas 
e mais receptivos somos aos outros. 






Textos bíblicos:   Mt 6,1-6.16-18   



Na oração: Nossa quaresma torna-se um “estar com Jesus”  no deserto,
 para, como Ele, dar a Deus o lugar central de nossa vida.
A quaresma é um tempo em que damos maior liberdade a Deus para agir 
em nós; é abrir espaço, alargar o coração para a ação de Deus.
 É tempo de re-construção de si (conversão), de retomada da
 opção fundamental por Deus e pelo seu Reino (maior serviço,
 mais compaixão, mais partilha, mais solidariedade...).

- Qual é o seu estado de ânimo e disposição para viver
 esta Quaresma?
- Você está preparado para a travessia do deserto?
 Está disposto a “caminhar”,  a “sair”.
- Você está disposto a ser mais servidor, mais acolhedor, 
mais atento aos outros... nesta Quaresma?   




DEUS ESTEJA COM VOCÊS!


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