terça-feira, 19 de setembro de 2017

SE ME JOGAREM PEDRAS...







"Se me jogarem pedras, não devolverei flores.
Só as entrego a quem faz laços de afeto comigo,
a quem não solta minha mão, mesmo nos momentos 
de dúvida e tempestade.
A quem me olha de frente e consegue me enxergar,
até quando nebulosidades insistem em turvar a visão.
Entrego as flores aos que me ouvem só pela sintonia.
E as pedras?
Me defendo delas sendo quem sou:
de verdade e protegida pelo céu".
Inês Seibert










CONSOLO NA PRAIA








"Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o 'humour'?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho".
Carlos Drummond de Andrade