terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estresse, Adaptação e Risos

Atualmente a risada tem sido objeto de estudos, por se tratar da expressão mais explícita do bom humor e da positividade (Macaluso MC. 1993). Segundo pesquisas de Hassed (2001), o riso tem um importante papel na redução dos hormônios envolvidos na fisiologia do estresse, melhorando a intensidade e realçando a criatividade das respostas, reduzindo a dor e, sobretudo, melhorando a imunidade e reduzindo a pressão de sangue. As pessoas que sabem se divertir e rir são, geralmente, mais saudáveis e mais capazes de sair de situações de estresse com mais facilidade.
A redução da liberação dos hormônios associados ao estresse, notadamente do cortisol e da adrenalina é ocorrência desejável, já que, como se sabe, estando eles em excesso, podem enfraquecer as defesas do organismo e elevar a pressão arterial, criando condições para o desenvolvimento de infecções e doenças cardíacas, tais como o infarto e a insuficiência cardíaca.

John Morreall afirma que "A pessoa que tem sentido de humor, não só é mais descontraída perante situações potencialmente estressantes, como também as compreende de forma mais flexível. Mesmo aquele em cujo ambiente não ocorram muitas coisas, a sua imaginação e criatividade vão afastá-lo da rotina mental permitindo desfrutar de si mesmo, evitar o aborrecimento e a depressão."
Efeitos Orgânicos do Bom (e do mau) Humor
Com o adendo das pesquisas funcionais do cérebro (PET e SPECT), está sendo possível avaliar como se comporta o Sistema Nervoso Central diante de muitas atividades psíquicas.

A tristeza e a ansiedade, quando comparadas a um estado emocional neutro, ativam um conjunto de regiões cerebrais diferentes. O estado emocional de tristeza foi seguido de ativações específicas da área subcortical do giro cingulado e núcleo dorsal, juntamente com a desativação específica de região pré-frontal direita e do córtex parietal posterior. Da mesma forma, viu-se que a ansiedade foi associada com as ativações específicas do núcleo ventral, do córtex temporal orbito-frontal e anteriores, desativação específica do giro para-hipocampal, e outras (Liotti, 2000).

Essas ativações e desativações complicadas são referidas aqui, apenas para convencer-nos do fato de existirem regiões cerebrais mais ou menos específicas para tipos mais ou menos específicos de emoções. Anatomicamente, o fato importante é a desativação cortical dorsal seletiva durante a tristeza e a desativação cortical ventral na ansiedade.
Embora as bases neurobiológicas para as principais anormalidades do humor não tenham sido ainda claramente estabelecidas, através do estudo do fluxo do sangue cerebral e da taxa do metabolismo do açúcar pelos neurônios tem-se localizado algumas áreas, no cortex cerebral pré-frontal ventral e no corpo caloso, cuja atividade se encontra fortemente diminuída em pessoas depressivas (Drevets, 1997) .
Em deprimidos crônicos e de origem familiar, o decréscimo na atividade dessas áreas cerebrais foi explicado por Drevets, ao menos em parte, por uma redução no volume cortical, mostrado pela Ressonância Magnética, de 39 e de 48%. Ressalta ainda esse autor, que esta região tem sido implicada na mediação das respostas emocionais aos estímulos sociais significativos ou provocativos, bem como na ação das drogas antidepressivas.
Essas alterações na função (e até na anatomia) cerebral diante de determinados estados emocionais têm resultado em difíceis reflexões; as alterações cerebrais produziriam alterações no humor ou, ao contrário, alterações do humor seriam as causas de alterações cerebrais?
A experiência de Fischer (1996), relacionando a função cerebral e a lembrança de experiências estressantes é muito curiosa. Funcionários de um banco assaltado foram submetidos à apresentação de um vídeo sobre o assalto que haviam presenciado. Na mesma apresentação havia também espectadores que não tinham vivenciado o assalto. As funções cerebrais medidas durante a apresentação do vídeo foram comparadas entre esses dois grupos.
Além dos níveis da ansiedade ter tido uma importante elevação fisiológica, muito maior no grupo dos assaltados que nos não assaltados, durante a exposição do vídeo houve, também nos assaltados, um aumento muito maior da atividade bilateral no córtex visual, no giro posterior do cíngulo e no córtex órbito-frontal esquerdo.
Isso pode significar que a simples memória do estresse desempenha importante papel no funcionamento cerebral. Na realidade, o que aconteceu na experiência de Fischer foi um outro estresse, desta vez, induzido pela re-experiência visual da vivência traumática. Isso explicaria, talvez, os pensamentos intrusivos e os sintomas conseqüentes, como acontece no Transtorno de Estresse Pós-Traumático (veja mais).
Mais adiante, o mesmo Fischer (2001) pesquisou as relações entre a atividade da amígdala e a disposição pessimista de personalidade. Os resultados sugerem um importante papel para a amígdala nos estados emocionais negativos, notadamente nas posturas emocionais cronicamente negativas, típicas das disposições pessimistas da personalidade.
Ainda em relação ao pessimismo, em 1986, 1306 homens foram submetidos a um questionário específico para avaliação das características Optimismo-Pessimismo da personalidade. Esse grupo foi acompanhado e avaliado por um período médio de 10 anos (Kubzansky, 2001).
Durante esse tempo ocorreram 162 casos da doença coronariana do coração (71 casos de infarto do miocárdio não fatal, 31 casos do mesmo quadro, porém fatais, e 60 casos da angina do peito). Os resultados foram publicados num trabalho de Kubzanski, com o sugestivo nome Is the glass half empty or half full?... (O copo está meio cheio ou meio vazio?...) e sugeriram, fortemente, que um estilo otimista de vida pode proteger contra os risco da doença coronariana, bem como, pode estar relacionado ao melhor prognóstico (casos não fatais) das coronariopatias.
Ben-Zur, em 2000, publicou um trabalho sobre a avaliação de 171 pacientes submetidos à cirurgia coronariana entre 2 e 20 meses depois da operação. A alta aflição psicológica (estados de ansiedade, medo e depressão) bem como a reduzida capacidade funcional, foram associada a níveis elevados do pessimismo.
As relações entre emoções e imunidade já vêm sendo estudadas há algum tempo. Um dos objetivos desses estudos é examinar o relacionamento entre fatores psicológicos, atividade regional do cérebro e a atividade dos leucócitos NT (Natural Killer). Nos trabalhos de Tashiro houve significativa correlação entre as atividades dessas células da defesa imunológica, ansiedade e estresse, e atividade do córtex pré-frontal infero-lateral, córtex orbito-frontal e córtex temporal anterior.
Esse trabalho (Tashiro, 2001), no qual foram estudados 8 pacientes com doenças malignas e submetidos à provas de função cerebral (PET), ofereceu dados que podem servir de suporte para uma hipótese de que a interação psico-imune pode ser mediada também pelo córtex cerebral e pelo Sistema Límbico (veja Imunidade e Emoção e Câncer e Emoção).
São mais ou menos recentes as pesquisas conduzidas por K. Shibata, da Universidade do Centro Médico de Rochester, New York, sobre as localizações cerebrais da região predominantemente relacionada ao humor (bom ou mau) das pessoas. Shibata começou, originalmente, usando a imagens de Ressonância Magnética Funcional (SPCT e PET) estudar o processamento cerebral de incongruências verbais.
Durante a pesquisa, quando observava a reação do cérebro à incongruências verbais engraçadas, encontrou alguns dados sugestivos da área do cérebro capaz de processar o bom humor. A estimulação das pessoas se dava às custas de gracejos verbais, cartoons e sons de gargalhadas.
O riso parece ser associado, primeiramente, com o córtex motor suplementar, uma observação constatada também por resultados da estimulação elétrica desta área durante a cirurgia do cérebro. O córtex direito do pré-motor pode também estar envolvido no riso. O sentimento emocional agradável que acompanha o riso parece ser associado com o núcleo acumbens, como são muitos outros estados emocionais positivos.
Por outro lado, a apreciação dos gracejos e dos cartoons parece estar relacionada ao lóbulo frontal ventro-medial, uma área que mostra relativamente pouca atividade nos pacientes com depressão e em pessoas portadoras de lesões capazes de destruir o sentido de experimentar o humorismo.