quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

RECEITA DE ANO NOVO










"Para você ganhar belíssimo Ano Novo, 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz... 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo 
já vivido, 
(mal vivido talvez ou sem sentido)... 
Para você ganhar um ano, 
não apenas pintado de novo, remendado 
às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, 
novo até no coração das coisas menos percebidas... 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha. 
Você não precisa beber champanha ou qualquer 
outra birita, 
não precisa expedir nem receber 
mensagens, 
(planta recebe mensagens? 
Passa telegramas? 
Não precisa 
fazer lista de boas intenções, 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido, 
pelas besteiras consumidas, 
nem parvamente acreditar, 
que, por decreto de esperança,
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal. 
Direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver. 
Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre". 
Carlos Drumond de Andrade