"Quem dera eu aprendesse a viver cada dia
como se fosse o último.
O último para esquecer tolices.
O último para ignorar o que, no fim das contas,
não tem a menor importância.
O último para rir até o coração dançar.
O último para chorar toda dor que não transbordou
e virou nódoa no tecido da vida.
O último para aprontar todas as artes que
a emoção quiser.
O último para ser útil em toda circunstância
que me for possível.
O último para não deixar o tempo escoar inutilmente,
entre os dedos das horas.
Quem dera eu aprendesse a viver cada dia,
como se fosse o último.
O último para me maravilhar diante de cada expressão
da natureza, com o olhar demorado de quem olha
pela primeira vez.
O último para ouvir aquela música que acende
sóis por toda a extensão da minha alma.
O último para ler, de novo, o poema que diz tanto
de mim que eu me sinto caber nos olhos do poeta
que o escreveu.
O último para desembaraçar os fios emaranhados
dos medos que me acompanham.
Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como
se fosse o último.
Eu não perderia uma chance para me presentear
com os agrados que me nutrem.
Eu criaria mais oportunidades para dizer o meu amor.
Para expressar a minha admiração.
Para destacar para cada pessoa a beleza
singular que ela tem.
Para compartilhar.
Eu não adiaria delicadezas.
Não pouparia compreensão.
Não desperdiçaria energia com perigos imaginários
e com uma série de bobagens que só me
afastam da vida.
Quem dera eu aprendesse a viver cada dia,
como se fosse o último, porque pode ser que..."
Ana Jácomo
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