"Todas as manhãs, ela deixa os sonhos na cama,
acorda e põe sua roupa de viver.
Todas as manhãs, ela caminha vagarosamente,
para pegar o ônibus que a levará para lugar
nenhum, para ver ninguém.
E todas as manhãs, ela imagina como serão as tardes,
já sabendo a resposta, finge ser feliz assim
todas as manhãs.
E todas as manhãs, ela espera pela noite,
ela espera assim arduamente para voltar,
para seu quarto, e ser triste.
É quando ela sente que está assim completa.
Completamente triste, mas completa.
E quando ela tira a roupa e põe todo o seu corpo
em baixo das cobertas quentes
e sente que começa a sonhar, é quando ela sorri.
Assim pra ninguém. Mas pra ela mesma.
E viver vale a pena".
Clarice Lispector