segunda-feira, 13 de maio de 2019

UM SER DIVINO








"Uma simples mulher existe que,
pela imensidão do seu amor,
tem um pouco de Deus
e pela constância de sua dedicação
tem um pouco de anjo.
Sendo moça, pensa como uma anciã
e, sendo velha,
age com todas as forças da juventude...

Quando ignorante,
melhor que qualquer sábio
desvenda os segredos da natureza.
E, quando sábia, 
assume a simplicidade das crianças.
Pobre, sabe enriquece-se com a felicidade dos
que ama e, rica, empobrecer-se para que seu
coração não sangre, ferido pelos ingratos.


Forte, entretanto, estremece ao choro duma
criancinha, e fraca, não se altera
com a bravura dos leões.
Viva, não sabemos lhe dar o valor
porque à sua sombra todas as dores se apagam.


Morta, tudo o que somos e tudo que temos
daríamos para vê-la de novo,
e receber um aperto de seus braços
e uma palavra de seus lábios.
Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher,
se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum:
porque eu a vi passar no meu caminho.


Quando crescerem seus filhos,
leiam para eles esta página.
Eles lhe cobrirão de beijos a fronte,
e dirão que um pobre viandante,
em troca de suntuosa hospedagem recebida,
aqui deixou para todos o retrato de sua própria MÃE.
Desconheço a autoria










PARA SEMPRE






 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento. 

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade