"Passei a infância toda, a
chando 
 
que a minha mãe g
ostava de pés de galinha.
 
Comia com tanto gosto...
Chupava até os ossinhos.
"Ninguém come os pés! são meus!", dizia.
Toda a carne dividia:
Peito, coxas e titela,
Fígado, coração e moela.
Mas os pés, os pés eram só prá ela.
Depois de todos servidos, e
ntão sentava e comia.
 
Mas o tempo foi passando...
A criançada crescendo,
Os maiores trabalhando...
A vida foi melhorando.
Depois de uma infância dura, 
c
omeçamos a ter fartura.
 
Vi minha mãe na cozinha, t
ratando de uma galinha.
 
E, ao contrário de outrora, 
flagrei aquela velhinha,
 
jogando os pezinhos fora.
Ao notar o meu espanto, 
aquele coração santo,
 
da minha doce mãezinha,
Apressou-se em explicar:
"Nunca gostei do tal do pé de galinha.
É que a carne era tão pouca,
Para tantas bocas não dava...
E para você não ficar triste,
Eu fingia que gostava."
 Bernardo Alves