"Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem
de ser crianças e abandonem a proteção do ninho.
Eu mesmo sempre os empurrei para fora.
Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções,
como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios
ninhos e eu fique como o ninho abandonado
no alto da palmeira…
Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los
de novo dormir no meu colo…
Existem muitos jeitos de voar.
Até mesmo o voo dos filhos ocorre por etapas.
O desmame, os primeiros passos,
o primeiro dia na escola, a primeira dormida
fora de casa, a primeira viagem…
Desde o nascimento de nossos filhos,
temos a oportunidade de aprender sobre
esse estranho movimento de ir e vir,
segurar e soltar, acolher e libertar.
Nem sempre percebemos que esses momentos
tão singelos são pequenos ensinamentos
sobre o exercício da liberdade.
Mas chega um momento em que a realidade bate
à porta e escancara novas verdades difíceis de encarar.
É o grito da independência, a força da vida em movimento,
o poder do tempo que tudo transforma.
É quando nos damos conta de que nossos filhos
cresceram e apesar de insistirmos em ocupar
o lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar
o mundo longe de nós.
É chegado então o tempo de recolher nossas asas.
Aprender a abraçar à distância, comemorar vitórias
das quais não participamos diretamente,
apoiar decisões que caminham para longe.
Isso é amor."
Rubem Alves
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